quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Atendimento em Gestalt- terapia

Bem, vamos lá! Quando estava ainda na faculdade, sem saber direito qual rumo tomar, ou qual linha seguir dentro das muitas possibilidades que a psicologia apresenta, tive meu primeiro contato com a Gestalt- terapia, ela me foi apresentada como uma terapia cheia de influências também denominada a terapia do aqui e agora. Fiquei curiosa tentando imaginar como seria isso.
Na época, lembro também, de ter escutado falar por um professor da faculdade, que tinha ido a um workshop de Gestalt em que os participantes se abraçavam e abraçavam árvores. Quando me vi sendo chamada pela Gestalt, fiquei com medo dessa terapia que mais me parecia na época “coisa de doidão” e não entendia bem o que era isso tudo!
Ao iniciar a formação, percebi que esse rótulo meio hyppie da Gestalt, na verdade era seu grande charme e que, também é uma teoria séria, embasada e de muito conteúdo e forma. Logo nas primeiras vivências e experimentos da minha formação, vi através da “teoria paradoxal da mudança”, que diz que mudamos quando retornamos a nossa essência, que desconstruir o que o social ajudou a construir, desmistificar conceitos e estar mais aberto para o novo, ou como a própria teoria diz para experimentar o “vazio fértil”, ou seja, em momentos de mudança, se permitir viver o vazio, o limbo do não saber, lugar onde estão as infinitas possibilidades. Conceito esse sábio e emprestado da filosofia oriental, fez todo o sentido para mim, desde então me apaixonei!
Mais formalmente dizendo, a Gestalt- terapia é uma abordagem psicoterapêutica nascida da inter-relação de várias escolas filosóficas e teóricas a partir da organização específica do seu criador, Frederick Perls.
Não entrarei em detalhes aqui nesse texto, somente citarei algumas das bases filosóficas da Gestalt- terapia: Humanismo, Fenomenologia, Existencialismo, Filosofia Dialógica, Teoria de Campo, Teoria Organísmica de Goldstein, Teoria Holística de Smuts. Além das correntes filosóficas Perls, estudou os principais conceitos de Freud, Reich, Moreno e também se influenciou fortemente pela filosofia oriental, especialmente o Zen Budismo.
Na Gestalt-terapia o processo é extremamente importante, assim como a construção da relação junto ao terapeuta. Podemos dizer que a relação campo-organismo-meio, define a existência humana, sendo impossível conceber o ser humano fora do contexto no qual ele está inserido e das relações que estabelece.
Uma das influências da Gestalt a fenomenologia, estimula o terapeuta estar presente, focado no fenômeno, no que acontece durante a sessão, de forma que o conteúdo apresentado na sessão, possa ser trabalhado. Vou dar um exemplo: o terapeuta está com seu cliente na sessão e percebe que este começa a balançar os pés, esse gesto, será percebido, relatado para o cliente e trabalhado na sessão.
O cliente é visto por seu terapeuta em sua totalidade durante a sessão: corpo, gestos, expressões faciais, respiração e algum acontecimento pontual que se apresente, serão considerados material a ser utilizado pelo terapeuta e farão parte do fenômeno.
Podemos ainda falar da relevância do como sobre o porquê. Quando perguntamos “porquê”, fazemos com que a pessoa volte ao passado e quando perguntamos “como”, fazemos ela se referir a experiência presente e descrever o que e como está fazendo agora.
Outro ponto marcante na teoria é prevalência da forma sobre o conteúdo. O que é falado na sessão tem muita importância sim, mas a forma como é dito, ou como o cliente se parece quando fala sobre algum assunto para o terapeuta é de extrema importância. Por exemplo, o cliente vem reclamar de ter uma determinada doença, seu discurso é todo de reclamação sobre essa doença, no entanto, a forma como conta, mostra uma certa alegria e até apreço por aquela doença. O terapeuta ao ter essa percepção, descreverá ao cliente suas impressões de modo que questione se esta impressão faz algum sentido ao cliente. Sendo assim o cliente poderá se questionar sobre o que verdadeiramente sente sobre aquele assunto.

Principais conceitos da Gestalt-terapia
A Gestalt-terapia tem inúmeros conceitos importantes, sendo impossível falar de todos eles em um breve texto, por isso, escolhi da teoria alguns dos principais conceitos, para que se possa entender melhor o funcionamento da mesma.

É chamando de AWARENESS o processo de se dar conta organísmicamente, ou seja, de corpo e alma, sobre algum modo de ser ou agir, que até então estava oculto. Somente quando um indivíduo consegue se dar conta dos movimentos que tem feito, de suas escolhas e de sua participação nos resultados que tem obtido, é que pode optar por escolher de novo, e desta forma poder fazer escolhas mais conscientes, saudáveis e congruentes com seu modo de ser autêntico.
Estamos constantemente buscando a AUTO-REGULAÇÃO ORGANÍSMICA, ou a homeostase que faz com que o organismo se equilibre e mantenha sua saúde, sob condições diversas. A homeostase é um processo que proporciona ao organismo a satisfação de suas inúmeras necessidades, que ao emergirem desequilibram o organismo, fazendo com que o processo homeostático ocorra o tempo todo. Estamos em constante processo de auto- regulação e buscamos no contato com o meio satisfazer nossas necessidades. Como por exemplo em caso de sono, buscamos dormir, em caso de fome, procuramos comida e assim por diante.
No processo de auto-regulação, estão presentes os elementos FIGURA E FUNDO, a necessidade a ser satisfeita é a figura e a que passa em segundo plano é o fundo. A figura e fundo se alternam constantemente e são interdependentes. Em algum momento a figura pode virar fundo e vice-versa. Como por exemplo, uma pessoa ao chegar em casa tem sede e ao mesmo tempo precisa dar um telefonema, se a sede for figura, após ser saciada passará a ser fundo e o telefonema aparecerá como figura.
Utilizamos muitas vezes o AJUSTAMENTO CRIATIVO, que é como vamos ajustando o nosso modo de agir para conseguir com mais rapidez atender as nossas necessidades. Queremos ser aceitos, amados e bem-sucedidos em nossos projetos, mas nem sempre conseguimos êxito, já nas primeiras tentativas.  Através de pequenos ajustes e de forma criativa, vamos elaborando e refinando nosso modo de agir, de forma a conseguir atingir nossos objetivos. O próprio processo de um bebê que está aprendendo a andar, requer inúmeros ajustamentos criativos, que vão desde o engatinhar, se pendurar nos móveis, cair e levantar várias vezes, até que... finamente o objetivo de andar é atingido... BINGO!!

Ter saúde não significa apenas estar livre de doenças, saúde é muito mais que ausência de doença, é a capacidade de estarmos no mundo plenamente. O conceito de SAÚDE E DOENÇA para a Gestalt é mais amplo, ou seja, é a exploração da potencialidade que exercemos na construção de um bem-estar, que transcende a busca de um equilíbrio momentâneo. Se uma pessoa diz ser saudável, mas está em um emprego que lhe suga as energias, em um relacionamento fracassado e com falta de vitalidade, energia, stress e insônia, será que realmente podemos considerá-la saudável, utilizando um conceito de saúde holístico?
O contato ocorre entre o indivíduo e o meio, pode ser de boa qualidade ou de má qualidade. CONTATO E FUGA é um conceito muito utilizado. O bom contato é aquele em que há a aproximação, seguida de nutrição e posteriormente o afastamento. Neste tramite entre contato e fuga está o ciclo do contato em que são explicados os mecanismos de interrupção de contato (fuga) que em muitos casos impedem os indivíduos de se relacionarem de forma saudável e satisfatória com o meio.
A pele é uma grande FRONTEIRA DE CONTATO, ela separa o exterior do interior, assim como pode ser uma proteção, serve também como isolamento. Uma boa analogia sobre a fronteira de contato é a permeabilidade seletiva da membrana plasmática em funcionamento saudável de nossas células, que somente deixa entrar na célula as substâncias nutritivas para a mesma, barrando os componentes desnecessários ou ameaçadores.
Na Gestalt- terapia utiliza-se também os EXPERIMENTOS, que são artifícios que auxiliam o cliente a sair da racionalização e viva uma experiência sobre o tema que está sendo abordado na sessão, podendo fenomenologicamente sentir e se dar conta de como age em determinadas situações. O experimento é para o terapeuta também fenomenológico, pois não é previamente preparado, surge para o terapeuta no momento da sessão, em que são utilizadas como ferramentas, objetos do próprio ambiente.
Vale ressaltar também, o trabalho do terapeuta, que pode utilizar de técnicas de respiração e também de “tarefas de casa” para que seu cliente possa se dar conta de seu próprio corpo, de como o percebe, de suas emoções localizadas no corpo, de suas necessidades e formas de expressão das mesmas. Há o estimulo ao uso das funções de contato: visão, audição, olfato, paladar, tanto dentro como fora da sessão, de forma que o sentir comece a ser aguçado. E que desta forma o cliente possa orientar-se em suas tomadas de decisão e em suas escolhas também através de seus sentidos e não somente baseado em sua racionalidade.
Por fim, vale deixar aqui registrada a oração da Gestalt, que de forma simples e objetiva, nos dá uma boa perspectiva do modo de pensar de seu fundador Frederick Perls:
ORAÇÃO DA GESTALT
“EU FAÇO AS MINHAS COISAS, VOCÊ FAZ AS SUAS.
EU VIVO DE ACORDO COM AS MINHAS EXPECTATIVAS
VOCÊ VIVE DE ACORDO COM AS SUAS.
VOCÊ É VOCÊ E EU SOU EU.
E SE POR ACASO NOS ENCONTRARMOS, SERÁ LINDO
SENÃO, NADA A FAZER." (FRITZ PERLS)

BIBLIOGRAFIA

KIYAN Ana Maria, M. E a Gestalt emerge. Editora Altana, São Paulo, 2001.
PERLS, F. HEFFERLINE, R. GOODMAN, P. Gestalt-Terapia. São Paulo, Editora Summus, 1977.
POLSTER, M., POLSTER, E. Gestalt-Terapia integrada. São Paulo, Editora Summus, 2001.
YONTEF, G. M. Processo, Diálogo e Awareness. São Paulo, Editora Summus, 1998.

ZINKER, J. Processo criativo em Gestalt-terapia. São Paulo, Editora Summus, 2007.

domingo, 23 de março de 2014

Para que pedir pouco?



Tenho observado que grande parte das pessoas não sabem o que querem da vida, querem um dia ser felizes, em algum momento ser bem sucedidas e também viver um amor ou encontrar uma companhia.
Mas não posso deixar de perceber o quão pouco as pessoas pedem ou acham que merecem, canso de escutar alguém dizer: "na verdade eu queria ser médico, mas como não ia conseguir acabei virando enfermeiro." "eu queria viajar o mundo, mas como isso não é possível,  faço alguns passeios as vezes, ou então, " eu queria um parceiro de vida, aquele que pudesse compartilhar a vida comigo todos os dias, mas continuo com uma pessoa que não tem a menor afinidade comigo, com quem não me sinto feliz...
Por que? e Para que? se sujeitar a tão pouco? Muitas vezes já negamos nossos pedidos antes mesmo de fazê-los. 
É como se estivéssemos em uma banca de frutas, escolhendo sempre as piores unidades, sem ao menos olhar ao redor para perceber quantas outras maravilhosas, apetitosas e suculentas existem e estão ai para nosso consumo.
Saber pedir e pedir bem funcionam, é uma questão de automerecimento. O quanto me sinto merecedora de receber tudo aquilo que desejo no fundo da alma? 
A impressão que passa é que pra não ficar sem nada.... o que é aterrorizante em nossa sociedade, preferimos ficar com pouco, não faltam ditos populares que reforcem essa crença: " é melhor um pássaro na mão do que dois voando", " ruim com ele... pior se ele". E desta forma vamos preenchendo os buracos e espaços vazios com coisas, projetos e pessoas que nos desagradam. 
Não se pode ficar sozinho, não se pode ficar parado, não se pode ficar no vazio...
Quem sabe essa não seja uma boa solução para a começar a mudar de vida, jogar o lixo no lixo, abrir mão do pouco e deixar ir aquilo que não nos faz bem... 
Precisamos de espaços vazios, limpos e preparados para receber aquilo que realmente merecemos, desejamos e que tem encaixe perfeito com nossas mais profundas aspirações....

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

ANO NOVO... VIDA NOVA.... SERÁ?








Bem ... agora o ano novo realmente se inicia, afinal o carnaval acabou e a realidade nos espera...
Novas esperanças, novos projetos e a crença de que neste ano a nossa vida vai mudar e os nossos sonhos vão se concretizar.
Muitas vezes as boas intenções de ano novo terminam nas primeiras dificuldades e tropeços no meio do caminho, algumas vezes me parece que se esperam soluções mágicas. É como se nossa vida fosse mudar, sem que precisássemos estar intensamente envolvidos neste propósito.
Coloca-se a responsabilidade nas mãos de Deus, do universo, do outro, mas raramente paramos para pensar que está em nossas mãos realizar ou não nosso projeto de vida.
Mas ai vem a pergunta: neste mundo atribulado em que vivemos, muitas vezes acostumados a consultar muito mais o outro e o mundo do que nós mesmos, será que sabemos o que desejamos realmente para nossa vida?
Acredito que seja esse, um dos grandes papéis de uma terapia, nos ajudar a entrar em contato com nossa autenticidade, com nossos desejos mais íntimos e inconfessáveis e ver o que queremos e como podemos projetar nossos passos de forma que possamos trilhar um caminho genuinamente escolhido e desenhado por nós mesmos.
Em alguns momentos é importante deixar-se ser levado pelas surpresas da vida e em outras sentar no volante e definir a direção torna-se imperativo.